sexta-feira, 8 de maio de 2009

TDAH e sua relação com a Aprendizagem


Por: Guiomar Albuquerque

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um problema de saúde mental que se caracteriza pelo comportamento desatento, hiperativo e/ou impulsivo. Trata-se de um dos transtornos de saúde mental mais pesquisados na medicina. Outros nomes já foram usados para esse transtorno, tais como: Lesão Cerebral Mínima, Disfunção Cerebral Mínima, Síndrome Hipercinética, entre outros. À medida que o conhecimento do problema vai avançando, os termos vem sendo modificados, tentando ajustar-se a uma caracterização mais precisa do transtorno. O TDAH tem uma prevalência na infância e adolescência em torno de 5%. Com esta taxa expressiva, sabemos que poderemos encontrar este transtorno do comportamento infantil em uma ou mais crianças em uma sala de aula de 30 alunos. O TDAH é, portanto, um enorme problema de saúde pública, que gera custos à sociedade advindos de comprometimentos nos âmbitos cognitivo, social, familial, acadêmico e ocupacional dos portadores deste transtorno. Sua forma de apresentação pode se manifestar em três diferentes sub-tipos diagnósticos: (i) predominantemente desatento; (ii) predominantemente hiperativo ou (iii) combinado, de acordo com a Associação Americana de Psiquiatria (1994).
Segundo dados publicados em 2006 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o TDAH é uma condição neurobiológica muito mais comumente detectada em meninos do que em meninas. Ele afeta crianças em idade escolar no que tange à capacidade de sustentar a atenção, o que pode por sua vez levar a um comprometimento funcional no ambiente escolar grande o suficiente para chamar a atenção dos professores. As dificuldades de cunho lingüístico, pesquisadas inicialmente por Lima e Albuquerque em 2003, podem causar grande comprometimento acadêmico com maiores desdobramentos negativos para a auto-estima e para a vida pessoal dos portadores de TDAH. Dentre os impactos negativos relacionados ao comprometimento acadêmico, a literatura reporta que têm sido evidenciados importantes índices de Transtorno da Leitura ou Dislexia (o mais comum dentre os transtornos do aprendizado) em co-morbidade com o TDAH. Por exemplo, cerca de 10 a 45% das crianças diagnosticadas com Dislexia são também portadoras de TDAH.
Geralmente estas crianças incomodam não apenas os professores como também os colegas, por não conseguirem permanecer sentadas durante longos períodos, sendo comum levantarem várias vezes para pegar objetos que caem no chão ou mesmo para ir ao banheiro, dar voltinhas no pátio ou conversar com seus colegas de classe.
Esta inquietude e principalmente a desatenção podem comprometer o desempenho escolar destes sujeitos e geralmente repercutem de maneira negativa nas suas vidas. No entanto, estas dificuldades não se limitam ao ambiente acadêmico, sendo comum o relato de que estas crianças apresentam dificuldades de completar tarefas escolares tanto na escola quanto em casa. Elas não conseguem organizar um horário de estudo em casa e, mesmo quando decidem parar e estudar, precisam levantar inúmeras vezes para fazer diferentes coisas. Interrompem as tarefas chegando a precisar de um dia inteiro para concluir um dever de casa. Não é raro estas crianças não darem conta de terminarem as tarefas, visto que suas interrupções e a inserção de outras atividades no decorrer do estudo prejudicam a conclusão de quaisquer das tarefas iniciadas.
Além disso, tanto a inquietude quanto a desatenção repercutem negativamente em outros contextos (familiar, social) da vida do portador de TDAH, podendo, inclusive, gerar graves problemas emocionais. Estes sintomas podem, ainda, abrir portas para a associação de outros transtornos, como por exemplo depressão, ansiedade, abuso de substâncias, sobretudo quando não adequadamente diagnosticados e/ou tratados.
Para a realização do diagnóstico de forma mais segura é importante observar a presença dos sintomas a partir dos 7 anos de idade e com queixas perdurando há pelo menos 6 meses e em mais de um contexto. Esta idade de 7 anos é apenas para dar maior segurança ao diagnóstico, contudo, cada vez mais vemos crianças mais novas sendo diagnosticadas. Isso se deve à entrada das crianças cada vez mais cedo na vida acadêmica e é justamente neste contexto que elas mais precisam controlar a sua atenção e o seu comportamento. No entanto, deve-se tomar cuidado ao fazer diagnóstico de crianças menores devido ao período de maturação neurológica, que pode confundir o comportamento imaturo com o do TDAH.
Outro fator importante é que os sintomas do TDAH são crônicos, ou seja, afetam o indivíduo ao longo da vida e não apenas temporariamente. Portanto, não se pode diagnosticar um caso de TDAH caso os sintomas sejam inéditos ou existam apenas em circunstâncias específicas.
Freqüentemente os portadores de TDAH são encaminhados à avaliação da linguagem sob suspeita de Transtorno da Leitura (Dislexia), visto que as características de falhas de linguagem destes dois Transtornos são muito semelhantes.
Na ocasião da avaliação pode-se observar ainda melhor as características lingüísticas dessa população, pois são aplicadas tarefas que visam mensurar o acesso lexical e a memória operacional, dentre outras funções cognitivas, além das tarefas de leitura e de escrita. A avaliação da linguagem nos possibilita fazer um diagnóstico diferencial entre o TDAH e a Dislexia, permitindo a elucidação da real dificuldade do paciente. Sendo assim, a partir do momento que o paciente chega com uma queixa de dificuldades de aprendizagem, a avaliação esclarece se esta dificuldade advém do comportamento inadequado, de uma dificuldade específica de linguagem ou se as duas coisas ocorrem juntas e prejudica ainda mais o desempenho do paciente.

Guiomar Albuquerque
Fonoaudióloga
Doutora e Mestre em Linguística pela UFRJ
Diretora de Fonoaudiologia da ONG Centro Integrado de Psiquiatria da Infância e Adolescência (CIPIA-RJ)
Assessora Científica da Associação Nacional de Dislexia (AND)

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